A chave na prevenção dos surtos da TPB está no controle do carrapato.
Tristeza parasitária dos bovinos (TPB), na verdade, é o nome comum
dado a duas doenças distintas, a babesiose e a anaplasmose, ambas
transmitidas pelo carrapato dos bovinos, o Boophilus microplus. Este
complexo; carrapato e doenças por ele transmitidas, causam prejuízos
à pecuária de corte e leite do Brasil estimados em cerca de dois
bilhões de dólares anuais.
A babesiose tem dois protozoários como agentes, Babesia bovis e
Babesia bigemina. A anasplamose é causada por uma rickettsia,
Anaplasma marginale. Todos os três são parasitos das células vermelhas
do sangue dos bovinos, causando anemia hemolítica, febre,
prostração,às vezes, urina cor de sangue (hemoglobinúria) e icterícia
(mucosas,ocular, vaginal ou prepucial de cor amarelada). Entretanto,
esses sintomas são comuns a outras doenças, devendo o diagnóstico
clínico ser confirmado pelo exame laboratorial.
Bovinos criados em áreas endêmicas, isto é, onde existe
carrapato o ano todo, são infectados desde os primeiros dias de vida.
Por serem protegidos pelos anticorpos adquiridos ao mamar, o colostro,
a maioria passa a crise das primeiras infecções sem manifestar
sintomas da doença e se tornam imunes. A mortalidade nesse caso é
baixa.
Em áreas de instabilidade endêmica, onde o carrapato desaparece nos
meses mais frios, os bezerros não são infectados quando ainda têm a
proteção dos anticorpos colostrais, portanto, não desenvolvem a
imunidade. Quando o carrapato reaparece, ocorrem muitos casos de
doença clínica e a mortalidade é alta.
Em explorações intensivas de gado leiteiro ou gado de origem
européia (Bos taurus taurus) existe a necessidade de um combate mais
intensivo ao carrapato.
O carrapato B. microplus é o principal vilão. Além de ser um parasito
que causa grandes prejuízos devido a lesões no couro, espoliação de
sangue, também age como vetor de outros agentes de doenças. Um
raciocínio rápido e lógico nos leva a dar prioridade para a profilaxia
(prevenção) deste parasito, desde seu controle químico até o
desenvolvimento de vacina.
Durante o inverno há uma menor taxa de infestação dos bovinos e
assim um menor desafio com a queda nas defesas do organismo contra a
babesia. O problema está a partir da primavera quando a infestação se
intensifica e começam a aparecer os surtos devido à baixa imunidade.
Tradicionalmente, o controle do carrapato tem sido feito
através de banho de imersão ou pulverização com carrapaticidas
químicos, endectocidas injetáveis à base de avermectinas e levamisol.
Vacinas contra o B. microplus produzidas por biotecnologia através de
DNA recombinante ou mesmo de peptídeos sintéticos estão sendo
experimentadas. Porém, promovem baixa proteção e por curto período,
dependendo de revacinação semestral, tornam-se bastante onerosas para
o produtor. Estas vacinas são úteis em situações extremas de
resistência da população de carrapatos aos carrapaticidas disponíveis.
A relação custo/benefício deve ser
avaliada antes de decidir-se por esse método de controle.
As vacinas mais eficientes que estão no mercado são produzidas a
partir de cepas atenuadas dos agentes da TPB, mantidas congeladas em
nitrogênio líquido. Essas vacinas são produzidas em doadores, clínica
e laboratorialmente sadios, e devido ao tipo de conservação, cada
partida é testada em animais sensíveis antes de ser liberada para o
uso. Portanto, cumprem as exigências do MAPA para a comercialização de
produtos biológicos. O método tradicional de premunição, por utilizar
sangue de animais adultos de campo, portadores dos agentes virulentos,
está ultrapassado. Além de caro, põe em risco a saúde do rebanho pela
possibilidade da disseminação de outras doenças transmissíveis pelo
sangue.
Como salientado, os sintomas manifestados na TPB são
comuns a outras doenças, tais como, leptospirose, hemoglobinúria
bacilar, raiva, mioglobinúria causada pela ingestão de fedegoso
(planta tóxica) e outras intoxicações.
O uso de carrapaticidas convencionais, que agem em todas as fases
do parasito, pode impedir que haja a inoculação dos agentes da TPB,
não estimulando a imunidade nos bovinos. Uma alternativa para prevenir
este tipo de problema são os chamados reguladores do desenvolvimento
de insetos, como o fluazuron, que controlam o carrapato sem impedir a
imunização contra a TPB, principalmente por Babesia bovis, o agente
mais perigoso. Estes produtos permitem que as larvas, que vem do
pasto, piquem o animal, estimulando a imunidade e morrendo apenas na
fase de ninfas. Nestas duas etapas (larvas e ninfas), os prejuízos
causados pelo carrapato são mínimos, (o maior consumo de sangue é
feito só pela fase adulta antes de cair no solo), porem é suficiente
para manter a imunidade sem as perdas causadas pelo parasitismo, ou
seja, um benefício duplo.
Prevenir a ocorrência das doenças transmitidas pelo carrapato é o
melhor remédio. O tratamento dos casos clínicos é caro e, muitas
vezes, não dá bons resultados, ou por falta de um diagnóstico
laboratorial específico ou pelo estado adiantado da doença.
Fonte:edição número 02 da revista Cultivar Bovinos / Angu@news, ano 13, nº 52.